E UMA ATRIZ CONFESSA...



by RENATA CAVALCANTE 



Foto de Elizandro Souza

É, eu esperei mais do que os três sinais que não terminavam nunca com aquele soluço que não findava nunca, passar todo o suspense, o drama por trás do drama, o flash de tudo se passando, a ressaca de tudo – dela – e a ficha cair.... e enfim, depois de esperar isso tudo, nada caiu nem as palavras parecem se encontrar direito no meu pensamento, mas o instinto pede que meus dedos se movimentem e cá estou.

Foto de Rafael Fernandes

Confesso em primeiro lugar que não me reconheço nem nas fotos – vide acima – nem com a imagem em movimento, muito menos nas palavras que recebi, nas reações que decifrei nos rostos que se aproximaram de mim.  Ao mesmo tempo que sei que falam de mim, parece não ser de mim que estão falando... é estranho... porque se sonha em ter reconhecimento e quando ele vem é tão surreal, tão intimidador e tão intrigante.... parece uma teia que te envolve e quer te sufocar  – seja no bom ou no mau sentido....
Sei que mereço, tenho meu merecimento: fui além de mim, das minhas forças – literalmente , tanto que retornei ao treino físico por conta de um dos ensaios – fui além do que achava que era capaz de fazer  – cantar é o exemplo, fiz, mas não acredito que... se me perguntarem, respondo que interpretei as canções, não vão me escutar dizer eu cantei, por não me considero cantando – incluindo, inclusive, além dos meus limites físicos, os emocionais, toda uma preparação que tive que ter, uma estrutura – técnica – que precisei adquirir em tempo recorde, consegui chegar no que estava lá na cabeça do gênio-criador-excêntrico-louco-maravilhoso que eu chamo de meu diretor – o recém imortalizado Carlos Marroco – e eis aí a missão mais impossível de todas que cumpri e custo a acreditar que – mesmo com o próprio me informando do feito – consegui dosar o tanto de instinto e o tanto de técnica, mesmo me sentindo como me senti na penumbra, no escuro até o breu total...

Foto de Manuella Pelegrinello

Desse breu todo ao breu do teatro, das pessoas entrando, do calor do foco, das luzes pra marcar, de toda a batalha pra fazer do meu cabelo mais uma obra à parte, do meu rosto uma máscara, do meu corpo um instrumento tocado por fora: por espasmos, por falta de movimento, de som, o desespero, a agonia de tudo... do tempo que parecia ter parado nas minhas mãos e como administrar na base do soluço, tapas e socos, do mais puro improviso.... assim tudo começou....

Foto de Manuella Pelegrinello

Daí pro novo breu, me erguer de sobressalto pra me revelar no mais completo caos, alimentado por tudo aquilo que acabei de dizer, combustível que pude abastecer no tempos dos 3 sinais – aqueles mesmos famosos e tão ansiados 3 sinais que anunciam a entrada do público e a contagem regressiva para o início de fato de um espetáculo – e dessa explosão toda eis eu a ruir de novo, antes é claro, trombando em algum coleguinha de elenco e me arrastando literalmente para chegar no foco – pra quê mesmo fiquei contando os passos? 

Foto de Manuella Pelegrinello

Passada essa louca transição entre parar, conter, crescer, explodir e ruir pra depois explodir.... e ter que ouvir e sentir tudo que falavam ao meu respeito em cena e só poder reagir respirando até enfim a deixa pra poder crescer, explodir e ruir.... depois conter pra explodir e tentar não me perder no timbre da voz – até agora espero ter sido no mínimo coerente – do início ao fim, construir uma unidade, alguém mesmo e não várias em um... 

 Foto de Manuella Pelegrinello
Foto de Manuella Pelegrinello

A única dó que tive foi de sair de cena – eu não queria sair mais – em contrapartida, se não houvesse saído, não existiria minha cena favorita onde o ego e o alter ego – Joana e Medéia ou Medéia e Joana – se encontravam e juntos se fortaleciam para atacar o inimigo e havia ali uma enlevação da “minha” pessoa e o conjunto todo da obra que por isso ficou prima – eleito o clímax da noite!

Foto de Manuella Pelegrinello

Foi complexo, tudo tão complexo, tão intenso, que desconfio que nem esteja conseguindo me expressar direito nem me fazendo entender, muito disso é culpa também de como me senti, como tudo está se processando em mim AINDA, se passou tão rápido.... – tirando o início de tudo que me veio de presente e que pareceu durar uma eternidade –  numa agilidade, na velocidade da luz e eu fui no limite do meu fôlego, senti as pernas tremerem, os pensamentos se esvaírem, sumirem no ar, vivi literalmente aqueles momentos, e só tinha cabeça funcionando pra saber quando devia falar e tudo saía da minha boca como se nem tivesse que pensar nem respirar, mas respirava e tinha os pés bem fincados no chão.
Olhando de longe, não reconheci nem humanidade ali, é como se fosse uma criatura, algo perdido de algum documentário, do tempo, que saiu das cavernas, era uma força da natureza, um grito, um desespero... Joana foi meu inferno, meu céu.... paraíso desejado e calculado, purgatório de todos os pecados... foi tudo, foi nada... combustível, me fez eu me sentir viva, sobreviver... meu maior desejo de todos!
Foi “alguém” e alguém por quem fui longe, por quem arrisquei, passando inclusive da linha da racionalidade, tomada de uma paixão minha pela personagem e por uma boa dose de coragem não propriamente minha, enfim, resolvi bancar a cega e passional.
Eu sei que arrisquei muito, corri o risco de encerrar a carreira tentando começar, porque com “Gota” não existiria um meio termo: ou era sucesso ou fracasso. Não digo isso pelo volume e a densidade do texto que me era familiar e queira ou não eu tinha fresco na minha memória, mas era pela densidade orgânica de dramaticidade – tentando traduzir o que seria o método próprio do Marroco – que me foi exigida, da linha de concepção da direção e por conta dela como tive que me preparar, fora as músicas que de início me amedrontaram, mas que aos poucos senti e percebi que não seriam minhas nem cantadas por mim, muito menos cantadas, elas foram dramatizadas, interpretadas, talvez por isso tenha conseguido dar conta – aparentemente – do recado, sem passar vergonha – esse era o meu grande objetivo... – não envergonhar ninguém, muito menos à mim diante de mim e da minha exigência fora dos padrões, encontrar a minha linha, a minha expressividade sem ser caricata nem esbarrar em toda teoria que investi em aprender pra TV, enfim, me descobrir como uma atriz, como uma profissional de fato...

Foto de Manuella Pelegrinello

Se sou, não realizei – mesmo sendo – mas sei que estou muito perto disso – de sentir e realizar –, pelo menos o maior desafio de todos eu venci – ele e todos os outros que me foram feitos em forma de proposta de cena, em poucos termos: imobilidade, queda, altura, intensidade, força, fraqueza, sedução... – que era ousar passear na montanha-russa de Chico Buarque e Carlos Marroco....
 Foto de Manuella Pelegrinello
Por pouco – medo – não deixo em exibição as imagens e que elas falassem por mil palavras nas linhas e entrelinhas.... mas ao mesmo tempo, precisava vir aqui, precisava me abrir pra filosofar à minha maneira, mesmo que confusa, abstrata e até poética, porque é desse turbilhão de emoções e intenções que sou feita e é desse mesmo turbilhão de intensidades que foi feita a MINHA Joana.....





E ASSIM FOI A ESTREIA DE GOTA D'ÁGUA NO TEATRO DA UBRO



É uma avaliação de sua performance e do elenco + Marroco. Penso que guardarás toda ela em sua carreira. Parabéns. 

Renata, eu gostaria verdadeiramente de tê-la entre meus poucos amigos no Facebook; a grande maioria de artistas.
Hoje não pudemos esperar (eu e minha companheira Meg Dutra) para cumprimentá-la pessoalmente.
Como já falei para o Marroco, (a quem também convidei para meu Facebook) eu vi a primeira encenação de A Gota D'Agua onde Bibi Ferreira (Joana) contracenava com o corretíssimo Roberto Bonfim. Embora lançada no Rio, eu a vi na temporada paulista em 1978 se não me falha a memória. Direção do criativo e perfeito Gianni Ratto, desenvolvia-se em um cenário tipicamente carioca. Medéia vivendo em Madureira. Em plena Ditadura que eu combatia nos subterrâneos do Rio.
Eu descobri hoje, surpreso, uma leitura de Marroco que retornava ao teatro grego e apresentava (nunca soube de duas atrizes a representar a Joana Passiva e a Joana Pró-ativa - uma brasileira submissa e uma grega capaz de tudo para vingar-se) uma Joana dividida e representada por duas excelentes atrizes. O uso da pintura no rosto - dramática - foi excelente. Adorei a sua abertura de cena como Joana (Medeia???) a chorar no proscênio quando da entrada do público. A abertura das portas com muita antecedência provocou uma conversa irritante entre a platéia. Quando você bateu três vezes no chão, percebi a deixa para o elenco e fui eu a fazer um "Pshiu" forte e todos se calaram. Eu já dirigi elenco e encenação teatral (inclusive um vez em Floripa lotando o CIC duas noites consecutivas com uma peça espírita. Ufa! rs rs) e sei dominar um público.rs rs
Eu não poderia deixar que a cena tão bem concebida pelo Marroco e interpretada com tanta competência por você fosse corrompida pela má educação de gente que parece estar obrigada a ir ao teatro e se sente melhor em bares com os pobres músicos a tocar para as almas.
As vozes representando os ritos acusativos da sociedade burguesa (o inconsciente coletivo) que Marroco introduziu (em lugar do para-musical que o Chico concebeu), a colocação de duas Joanas na mesma cena (ou Joana e Medéia juntas) com a troca de textos de ambas foi GENIAL! Eu vi Marroco retomar a linha da tragédia grega, com absoluta competência, inclusive criando máscaras para as duas Joanas Medeias.
Chico Buarque e Paulo Pontes - com as dicas do notável Oduvaldo Viana Filho - conceberam os diálogos todos rimados, mas já na primeira encenação essa característica perdeu-se no ritmo da encenação. Usar apenas os versos iniciais ou principais das canções foi um achado cênico. Vocês ampliaram o efeito dramático.
Eu dificilmente aplaudo de pé a um espetáculo. Reservo essa reverência aos melhores. Neste ano em Floripa apenas aplaudi de pé a Galileu Galilei com a direção excelente de minha querida amiga Carmen Fossari e seu competentíssimo grupo de teatro. Hoje aplaudi de pé ao elenco e ao trabalho de Marroco e específicamente ao seu como Joana (a mesma que a diva Bibi Ferreira interpretou).Não aplaudi de pé por cortesia, pois considero isso uma hipócrita sacanagem com os artistas. Eu aplaudi por reverência a esses jovens encantadores e ao trabalho que apresentaram.
Falhas ocorreram, muitas é claro, e esse é o charme do teatro amador. Contudo nada que comprometesse o impacto, o envolvimento da platéia e a fidelidade ao texto dramático. Mas vi o elenco se superar. Eu felizmente ainda pude cumprimentar a atriz que fez a segunda Joana e não, infelizmente, pude dizer a você o quanto eu e Meg (também artista plástica) admiramos ao seu trabalho. Desde o pranto sobre o proscênio até a cena de sedução de Jasão; uma cena bela e poética com o repúdio do homem à mulher e o ódio que esse repúdio gera. Você colocou a voz com absoluta perfeição, ora usando doçura, ora amor e finalmente pura sedução.
O gesto de desnudar os seios e oferecê-los a Jasão foi de grande beleza cênica completada com o retirar brusco da mão e a expressão de pânico no rosto feitas pelo ator e que foram perfeitas. O rosto masculino, com a pantomina perfeita, em todos os momentos nos quais Jasão contracenava com Joana. Esse ator também irá longe.Aplausos.
Contudo o ponto alto, o clímax foi a belíssima cena na qual as duas Joanas trocavam falas do texto e os personagens dançavam e a elevavam ao plano superior da Medeia gtega - a vingativa. Absolutamente sensacional essa concepção do Marroco! A comparação entre as duas Joanas Medeias era inevitável, assim como a comparação das duas atrizes. Ambas corretíssimas, empolgantes. Apenas uma sutil diferença: a colocação da voz. O hábito de falar "manezinho" por sua velocidade provocou uma redução na dramaticidade das falas da segunda Joana Medeia. Absolutamente nada que comprometesse o texto ou a mensagem, mas Joana era carioca, da periferia. E Medeia era grega. rs rs Já a sua colocação vocal é perfeita. A pantomina perfeita. Na segunda Joana a máscara compôs muito bem o ódio de mulher ao ser rejeitada. Na primeira Joana a mulher atravessou a máscara (idênticas).
Quando eu dirigi uma encenação fazia ensaios e mais ensaios nos quais os atores e atrizes tinham de contracenar falando seus textos sem abrir a boca, apenas com os olhares. Isso criava uma intimidade fortísima no elenco e nunca esqueciam uma fala.E a s expressões faciais transmitiam a essência do texto. É exatamente essa capacidade de trabalhar o texto com seu rosto e expressões: esse é o mais puro e perfeito teatro, que a televisão e o cinema jamais mostrarão. É a sedução do teatro. Minha companheira Meg é fotógrafa e ama fotografar rostos, e conhece mais de expressões faciais do que eu. Ela adorou a sua performance! Falo em nome de ambos.
Fiquei a imaginar essa encenação em um teatro com recursos profissionais, tipo TAC ou CIC e o acompanhamento musical de sopro e surdos (estes na belíssima cena na qual as duas Joanas trocam os textos e os personagens dançam). Para mim, como disse, o clímax da encenação. Essa cena me fez ser o primeiro a aplaudir de pé. Eu tenho como acervo teatral, além de ser escritor, artista plástico, dramaturgo amador e ter dirigido elencos amadores e de ter visto a interpretação da quase totalidade de todos os grandes atores, atrizes e trabalhos dos maiores encenadores no Brasil (Augusto Boal - o melhor de todos) por cinquenta anos.
Quando aplaudo de pé eu rendo homenagem à juventude, ao talento e à garra que vejo no palco. A técnica eu coloco, quando vejo os jovens e amadores, em segundo plano: está vem com o tempo, já o talento, o amor pelo palco, o ser feliz ao respirar a poeira que sobe da madeira... isso a gente nasce com essa característica. A felicidade que vi no rosto de cada um dos atores e atrizes. O silêncio da platéia ao final da encenação, como se esperasse mais (isso eu consegui obter no CIC), a emoção de vocês... essa foi a maior recompensa de todo o trabalho. Tão emocionados estavam que quase esqueceram de aplaudir ao Marroco! O grande criador! (risos). Não penso que esta foi a sua primeira apresentação como atriz profissional. Ser profissional para o teatro é um dado curricular. O mais empolgante é a diplomação pelo aplauso.
O importante é o talento que é inerente a cada um. Representar algo corriqueiro de um modo particular e único é a essência da arte. Você em uma hora e meia representou de um modo particular e único a uma simples mulher. Isso é arte e você já é uma artista diplomada pela platéia.
Eu e Meg adotamos o hábito se rastrear e assistir aos trabalhos de Marroco, do João - amigo de infância de meu filho e agora da doce Júlia. Há outra atriz no elenco que chamo carinhosamente de ruivinha a quem também invisto minha certeza de ver brilhar nos palcos. Marroco é genial! No Rio e São Paulo por quarenta anos vi poucos diretores teatrais usarem a simplicidade para ousar criar, de textos corriqueiros, algo único: arte.
Você perguntará: por que razão esse texto tão longo e cansativo. Respondo: Para você gravar como um texto teatral. Odeio aos críticos "profissionais", contudo adoro receber comentários isentos e agradecidos pelos meus trabalhos. Quando vejo jovens ingressarem na guerra que é ser artista neste mundo louco e materialista, faço exatamente o mesmo que comigo fazem.
Tude de melhor para você, Renata! São os votos do Sergio e da Meg. PS Envio para si a foto de Bibi Ferreira (a primeira Joana) com Roberto Bonfim (o Jasão) na primeira encenação que vi em Sampa.

Sergio Trouillet



Veja as fotos da estreia tiradas por Manuella Pelegrinello clicando na foto abaixo


Assista um trecho da montagem clicando na foto abaixo


Assista trechos maiores clicando na foto abaixo


Não perca as próximas apresentações
















MARROCO TOMA POSSE DA CADEIRA NÚMERO 18


DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL / 
SECCIONAL FLORIANÓPOLIS

CERIMÔNIA DE POSSE EM 5 DE NOVEMBRO DE 2013




Clique na foto abaixo para assistir a encenação de trecho de peça de Carlos Marroco








CONFISSÕES DE UMA ATRIZ




"ELA VAI CAIR DE NOVO..."

by RENATA CAVALCANTE 




Eis a razão de todo o suspense no capítulo anterior, mas não é o fim do dito cujo... – já explico...

A famigerada da Gota D’Água vai cair de novo em minha vida.... ah vaiiii!
E simmmm, eu tive a mesma reação que você está tendo agora quando o Marroco anunciou este como o seu mais novo projeto, de cara – não tenho ideia da cara que fiz – me espantei com o meu destino de ter ela de novo na minha vida em menos de um ano depois e me convenci que aí tinha um karma pra resgatar, algo do gênero....  – de fato, muito eu queria ter feito e não pude realizar naquela época.... eu senti que ficou faltando algo...
Agora eu NUNCA podia imaginar que ela voltaria pra minha vida e que ia ser com ela a minha primeira vez em cima do palco pós-DRT, justamente ela, a tragédia musical de Chico Buarque de novo e mais uma vez....
E a coincidência começa e termina no nome da peça e no texto – até a página vinte, afinal ele ganhará uma nova adaptação – porque a direção é completamente oposta e inversa: a gota não vai cair, meus caros leitores: vai despencar no mais puro estilo marroquino!  
Agora, queria eu chegar aqui nesse ponto da história e dizer quem vou ser dessa vez, só que não.... meu diretor não me permitiu isso!
Quando cheguei para o ensaio esbaforida – porque... adiviiiinhaaa... –, eu dei foi de cara com a benção de estar unida à todos na "alegria" e na tristeza de estar totalmente atrasada!
Isso já garantiu o primeiro – só o primeiro de muitos – soco no estômago, a primeira chamada pra responsabilidade que se tem que se ter, afinal não importa o motivo que você tenha para não chegar na hora, você tem que estar lá. – ao contrário do que imaginam as más línguas, temos nossos horários, prazos e curtos deadlines a cumprir como qualquer profissional, a pontualidade faz parte da nossa carreira como artista. Fora que deve se adiantar, porque tem uma voz pra aquecer, um corpo pra alongar, enfim...
E a decisão que já estava tomada – e que nunca saberei qual era – foi abortada, estávamos em teste-surpresa e lá se foram as dinâmicas marroquinas de INTENSIDADE, sempre explorando o andar, a postura, só que agora o corpo devia ter percussão e de uma forma aleatória e “desorganizada” com que devíamos nos movimentar, se abriria no meio de todos um espaço e ele chamaria quem quisesse pra preencher esse vazio entre a gente, com texto e a intenção dirigida por ele....
Adivinha quem foi a primeira a ir pra fogueira? – sem piada interna.... ahhh vá, talvez uns 50% – Eu mesma! E como sempre, ele me queria quebrando tudo, indo até o telhado – com a voz, que fique beeeeem claro – com as palavras de Joana – sim, fui pra cima dela de novo!
Rasguei o que dava no momento – literalmente, e, crianças, não façam isso em casa – e foi se seguindo um a um, até finalizar todos....
Aí começou a parte de começar a rabiscar o que seria o espírito da coisa – do espetáculo, enfim – , só um pequeno aperitivo com as cenas iniciais, algumas marcações provisórias e pitadas de direção marroquina... dessa vez, quando tive a deixa, eu me voluntariei pra ir pra fogueira, e fui ser Joana, e deu pra sentir mais ou menos o que poderia ser...
Extamente: MAIS OU MENOS, porque com Marroco tudo é sempre indefinido.... nada se adivinha, se supõe, tudo se cria e se transforma até mesmo no mesmo dia – fora que toda semana, tudo muda e nada definitivamente, é definitivo!
Na base daquela agonia delícia.... só que não... se passaram os dias e quando acreditava eu – e todo o povo do elenco – que nosso último encontro serviu de teste e que a escalação de elenco iria ser definida, lá veio a pegadinha do Marroco:
Simmm, ele tinha dito antes que queria ter 2 opções para cada personagem, deixou claro que nada seria fixo e que qualquer um podia mudar de papel dependendo do desempenho, desenvoltura, postura, enfim, o que nunca passaria na minha cabeça nem no meu MAIS DELIRANTE de todos os delírios é que ele iria querer uma disputa entre papéis, ou seja, todos os personagens principais teriam 2 atores interpretando entre si por um mês...
Resumo da ópera: eu era Joana e a Karoll – meu Joanete – também era... Jasão também tinham 2 e assim sucessivamente....


Pausa dramática, que me senti subitamente em Smash...

Paro, paro, paro, que não é tão simples, esse meu Smash é marroquino, portanto adiciono requintes de Tropa de Elite, porque o que se seguiu foi pra neguinho saber bem com quem estava lidando e se fosse pra pedir pra sair a hora era aquela!






Agora sim, mais no clima...


Pera, que eu me adiantei um pouco, deixa eu rebobinar... inicialmente formamos nossos núcleos – cada um com um ator em um personagem, contando com todos os principais juntos – e devíamos montar uma dinâmica de cenas onde todos apareciam, cruzando as presenças com uma seqüência lógica em 3... 2.. 1... – porque com ele é assim, irmão!
Daí sim, veio o momento Tropa de Elite que anunciei precocemente, em duplas de Joanas, Jasões e toda a quadrilha – piada interna – , ganhamos um circuito sensacional de preparação: era tentar andar com o outro te segurando pelos ombros dando texto até chegar do outro lado da sala, depois era só fazer flexão dando o texto, abdominal – sem voltar, encostando as costas no chão – dando texto e enfim levantar e encher um balão até estourar... sem dar o texto né.... – e ai, preciso confessar que nunca estourei um balão na boca na vida, fora que estava precisando de um outro naquele exato momento: de oxigênio! – e quem disse que eu estourei a criança? Me faltou o ar, não conseguia manter a boca na boca do balão , tive que escapar pra puxar ar e passei mal... não cheguei a ver a luz, mas foi puxado... caos e enfim, meu querido Jasão – Elizandro – fez o favor de estourar meu balão “cá mão” no mais puro estilo “quantos anos você tem, 4?”...
Depois disso, fomos convocados a apresentar nossa seqüência de cenas de núcleo – aquelas esquematizadas e decoradas na base do susto – e quando eu me apresentei... MORRI completamente! – ainda no feeling de que a preparação tinha me sugado ao invés de exibir tudo que ela me fez sentir no sentido energético da coisa – fiquei com raiva de mim na hora, como se estivesse desperdiçando tudo aquilo que tive a oportunidade – e fiz o sacrifício – de sentir pra fazer acontecer o que era pra ter acontecido ali – ahhh as frustrações... sempre assombrando a vida... a carreira... – e, assim que tive uma segunda oportunidade, já fui me portando mais como deveria.... como a Joana pedia...
Dali em diante, tinha nosso primeiro ensaio com texto de fato pela frente. O texto dividido em 3 partes e o primeiro terço era pro mesmo... a adaptação deve ser feita por nós atores em conjunto com o Marroco a medida que formos avançando... mas enfim, eram por hora 64 deliciosas páginas e eu cheia dos bifes suculentos... ai ai...
E depois de tanto confete... opa... depois de tanto aguardar: chegou o grande dia, o primeiro e oficial primeiro dia de ensaio de todos! Dimensões do palco riscadas no chão – isso já tavam desde o último encontro, só eu que esqueci de mencionar – aquecimento e alongamentos à parte e experimentações pela frente.... coro pra lá... Joana pra cá, depois pra lá.... revezamento, primeiro Karoll, depois eu.... e enfim, a marcação que eu jamais imaginaria na vida – de novo, e mais uma vez, Marroco me matando de surpresa e susto... susto e surpresa, não sei nem definir a ordem das coisas, digo dos sentimentos – , querendo que a Joana esteja presente o tempo inteiro em cena, sabe como? – não vou contar, não vou contar, vai ter que ir ver com seus próprios olhos ouuuuu esperar pela confissão da estréia MUAHAHAHAHAH....
Mas enfimmm, o que dá pra adiantar é tudo o que eu senti, quando finalmente tive eu que assumir a proposta do homem: senti o popular “falando de mim pelas costas” na minha cara, meu ex com a outra na minha cara, meus pseudo amigos e inimigos se divertindo com a “minha” – minha, enquanto Joana – desgraça e enfim, RESPIREI isso tudo... BUFANDO inclusive.... resultado? Queria explodir com tudo, todo mundo, mas infelizmente não conseguimos ir até a minha entrada oficial em cena e eu fiquei só na expectativa e no feeling viceral do negócio....
Fora que antes dessa parte, quase esqueci de contar: tinha a entrada que ele criou – bem legaaal... de verdade mesmo, sem ironia – que me exigia uma estrutura e uma consciência fora do comum – de repente comum pra quem está tecnicamente treinado, o que não é meu caso que estou me adaptando ainda pra não ser partida ao meio já já... porque ele pode, o Marroco pode fazer isso comigo em dois tempos – pra estar em prantos, urrando praticamente do útero, numa entrada de altíssimo impacto e efeito... e pra eu fazer isso tudo e manter a técnica toda necessária? Uhhhhhhhhhhhh... posso garantir uma coisa, que iniciamente foi frustrante... experimentei o que dava na hora e errado, me rasguei toda – de novo... feio, muito feio, eu sei...

Mas corri atrás dessa parte e tenho a grande ambição de colocar em prática ainda hoje direitinho como manda o figurino....  mais tarde, eu conto.... 





Atriz nascida em 29/10/1988. Integra o elenco de Cibele Albuquerque e é formada em Interpretação para TV, Cinema e Teatro pela JP Talentos.
Entre 1999 e 2000, esteve envolvida nos espetáculos teatrais realizados no Colégio Planck Einstein, na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2006, integrou a primeira formação de elenco do Grupo de Teatro do Colégio Cruz e Sousa em Florianópolis, participando da montagem de seu espetáculo de estréia “A Partilha”.
Já em 2011 teve seu primeiro contato com a linguagem audiovisual, ingressando no curso de formação profissional em Interpretação para TV, Cinema e Teatro do preparador e coach de atores Jeam Pierre Kuhl.
Em 2012, retornou aos palcos sob a direção de Ana Luz no espetáculo "A Gota que Falta", produzido pela JP Talentos. Formou-se e, simultaneamente, fez preparação intensiva para musicais com Maria Cristina Yoshizato, concluída com a apresentação indoor da esquete musical "Big Spender", numa versão que escreveu e dirigiu. Além de iniciar os estudos de canto e preparação vocal com Jamil Vigano.
Em 2013, já realizou a Oficina de Monólogos do Diretor Carlos Marroco e o módulo Avançado para Atores em TV/Cinema da JP Talentos ministrado por Gringo Starr e Jeam Pierre Kuhl; Filmou o curta-metragem "Sou eu e você" de Jeam Pierre Kuhl e estreou de forma inusitada no TAC, sob a direção de Carlos Marroco, em uma performance de intervenção nas escadarias do teatro, pouco antes da estréia de "Homens de Papel".  
Atualmente, realiza seus estudos em Teatro com o Diretor Carlos Marroco na Art Estúdio Espaço Cultural e em dança - Zouk - com James Batista na Academia Ilha da Dança.


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TV iNOVA - PROGRAMA MAKING OF


Acompanhe nos próximos três meses os bastidores da montagem de "Gota d'água" de Chico Buarque e Paulo Pontes com os alunos do Curso de Teatro 2 da Art Estudio Espaço Cultural


Direção de Carlos Marroco
Produção de Rafael Fernandes
Realização Art Estudio Espaço Cultural

MAKING OF
Uma produção de iNova
Direção de Vídeo e Apresentação de Franthesco Guarda
Produção, Edição e Caracterização de Marynes Bertote Guarda






FOTOS DA ESTREIA DE TIA LECA




Clique na foto acima para assistir momentos da peça