CONFISSÕES DE UMA ATRIZ




"ELA VAI CAIR DE NOVO..."

by RENATA CAVALCANTE 




Eis a razão de todo o suspense no capítulo anterior, mas não é o fim do dito cujo... – já explico...

A famigerada da Gota D’Água vai cair de novo em minha vida.... ah vaiiii!
E simmmm, eu tive a mesma reação que você está tendo agora quando o Marroco anunciou este como o seu mais novo projeto, de cara – não tenho ideia da cara que fiz – me espantei com o meu destino de ter ela de novo na minha vida em menos de um ano depois e me convenci que aí tinha um karma pra resgatar, algo do gênero....  – de fato, muito eu queria ter feito e não pude realizar naquela época.... eu senti que ficou faltando algo...
Agora eu NUNCA podia imaginar que ela voltaria pra minha vida e que ia ser com ela a minha primeira vez em cima do palco pós-DRT, justamente ela, a tragédia musical de Chico Buarque de novo e mais uma vez....
E a coincidência começa e termina no nome da peça e no texto – até a página vinte, afinal ele ganhará uma nova adaptação – porque a direção é completamente oposta e inversa: a gota não vai cair, meus caros leitores: vai despencar no mais puro estilo marroquino!  
Agora, queria eu chegar aqui nesse ponto da história e dizer quem vou ser dessa vez, só que não.... meu diretor não me permitiu isso!
Quando cheguei para o ensaio esbaforida – porque... adiviiiinhaaa... –, eu dei foi de cara com a benção de estar unida à todos na "alegria" e na tristeza de estar totalmente atrasada!
Isso já garantiu o primeiro – só o primeiro de muitos – soco no estômago, a primeira chamada pra responsabilidade que se tem que se ter, afinal não importa o motivo que você tenha para não chegar na hora, você tem que estar lá. – ao contrário do que imaginam as más línguas, temos nossos horários, prazos e curtos deadlines a cumprir como qualquer profissional, a pontualidade faz parte da nossa carreira como artista. Fora que deve se adiantar, porque tem uma voz pra aquecer, um corpo pra alongar, enfim...
E a decisão que já estava tomada – e que nunca saberei qual era – foi abortada, estávamos em teste-surpresa e lá se foram as dinâmicas marroquinas de INTENSIDADE, sempre explorando o andar, a postura, só que agora o corpo devia ter percussão e de uma forma aleatória e “desorganizada” com que devíamos nos movimentar, se abriria no meio de todos um espaço e ele chamaria quem quisesse pra preencher esse vazio entre a gente, com texto e a intenção dirigida por ele....
Adivinha quem foi a primeira a ir pra fogueira? – sem piada interna.... ahhh vá, talvez uns 50% – Eu mesma! E como sempre, ele me queria quebrando tudo, indo até o telhado – com a voz, que fique beeeeem claro – com as palavras de Joana – sim, fui pra cima dela de novo!
Rasguei o que dava no momento – literalmente, e, crianças, não façam isso em casa – e foi se seguindo um a um, até finalizar todos....
Aí começou a parte de começar a rabiscar o que seria o espírito da coisa – do espetáculo, enfim – , só um pequeno aperitivo com as cenas iniciais, algumas marcações provisórias e pitadas de direção marroquina... dessa vez, quando tive a deixa, eu me voluntariei pra ir pra fogueira, e fui ser Joana, e deu pra sentir mais ou menos o que poderia ser...
Extamente: MAIS OU MENOS, porque com Marroco tudo é sempre indefinido.... nada se adivinha, se supõe, tudo se cria e se transforma até mesmo no mesmo dia – fora que toda semana, tudo muda e nada definitivamente, é definitivo!
Na base daquela agonia delícia.... só que não... se passaram os dias e quando acreditava eu – e todo o povo do elenco – que nosso último encontro serviu de teste e que a escalação de elenco iria ser definida, lá veio a pegadinha do Marroco:
Simmm, ele tinha dito antes que queria ter 2 opções para cada personagem, deixou claro que nada seria fixo e que qualquer um podia mudar de papel dependendo do desempenho, desenvoltura, postura, enfim, o que nunca passaria na minha cabeça nem no meu MAIS DELIRANTE de todos os delírios é que ele iria querer uma disputa entre papéis, ou seja, todos os personagens principais teriam 2 atores interpretando entre si por um mês...
Resumo da ópera: eu era Joana e a Karoll – meu Joanete – também era... Jasão também tinham 2 e assim sucessivamente....


Pausa dramática, que me senti subitamente em Smash...

Paro, paro, paro, que não é tão simples, esse meu Smash é marroquino, portanto adiciono requintes de Tropa de Elite, porque o que se seguiu foi pra neguinho saber bem com quem estava lidando e se fosse pra pedir pra sair a hora era aquela!






Agora sim, mais no clima...


Pera, que eu me adiantei um pouco, deixa eu rebobinar... inicialmente formamos nossos núcleos – cada um com um ator em um personagem, contando com todos os principais juntos – e devíamos montar uma dinâmica de cenas onde todos apareciam, cruzando as presenças com uma seqüência lógica em 3... 2.. 1... – porque com ele é assim, irmão!
Daí sim, veio o momento Tropa de Elite que anunciei precocemente, em duplas de Joanas, Jasões e toda a quadrilha – piada interna – , ganhamos um circuito sensacional de preparação: era tentar andar com o outro te segurando pelos ombros dando texto até chegar do outro lado da sala, depois era só fazer flexão dando o texto, abdominal – sem voltar, encostando as costas no chão – dando texto e enfim levantar e encher um balão até estourar... sem dar o texto né.... – e ai, preciso confessar que nunca estourei um balão na boca na vida, fora que estava precisando de um outro naquele exato momento: de oxigênio! – e quem disse que eu estourei a criança? Me faltou o ar, não conseguia manter a boca na boca do balão , tive que escapar pra puxar ar e passei mal... não cheguei a ver a luz, mas foi puxado... caos e enfim, meu querido Jasão – Elizandro – fez o favor de estourar meu balão “cá mão” no mais puro estilo “quantos anos você tem, 4?”...
Depois disso, fomos convocados a apresentar nossa seqüência de cenas de núcleo – aquelas esquematizadas e decoradas na base do susto – e quando eu me apresentei... MORRI completamente! – ainda no feeling de que a preparação tinha me sugado ao invés de exibir tudo que ela me fez sentir no sentido energético da coisa – fiquei com raiva de mim na hora, como se estivesse desperdiçando tudo aquilo que tive a oportunidade – e fiz o sacrifício – de sentir pra fazer acontecer o que era pra ter acontecido ali – ahhh as frustrações... sempre assombrando a vida... a carreira... – e, assim que tive uma segunda oportunidade, já fui me portando mais como deveria.... como a Joana pedia...
Dali em diante, tinha nosso primeiro ensaio com texto de fato pela frente. O texto dividido em 3 partes e o primeiro terço era pro mesmo... a adaptação deve ser feita por nós atores em conjunto com o Marroco a medida que formos avançando... mas enfim, eram por hora 64 deliciosas páginas e eu cheia dos bifes suculentos... ai ai...
E depois de tanto confete... opa... depois de tanto aguardar: chegou o grande dia, o primeiro e oficial primeiro dia de ensaio de todos! Dimensões do palco riscadas no chão – isso já tavam desde o último encontro, só eu que esqueci de mencionar – aquecimento e alongamentos à parte e experimentações pela frente.... coro pra lá... Joana pra cá, depois pra lá.... revezamento, primeiro Karoll, depois eu.... e enfim, a marcação que eu jamais imaginaria na vida – de novo, e mais uma vez, Marroco me matando de surpresa e susto... susto e surpresa, não sei nem definir a ordem das coisas, digo dos sentimentos – , querendo que a Joana esteja presente o tempo inteiro em cena, sabe como? – não vou contar, não vou contar, vai ter que ir ver com seus próprios olhos ouuuuu esperar pela confissão da estréia MUAHAHAHAHAH....
Mas enfimmm, o que dá pra adiantar é tudo o que eu senti, quando finalmente tive eu que assumir a proposta do homem: senti o popular “falando de mim pelas costas” na minha cara, meu ex com a outra na minha cara, meus pseudo amigos e inimigos se divertindo com a “minha” – minha, enquanto Joana – desgraça e enfim, RESPIREI isso tudo... BUFANDO inclusive.... resultado? Queria explodir com tudo, todo mundo, mas infelizmente não conseguimos ir até a minha entrada oficial em cena e eu fiquei só na expectativa e no feeling viceral do negócio....
Fora que antes dessa parte, quase esqueci de contar: tinha a entrada que ele criou – bem legaaal... de verdade mesmo, sem ironia – que me exigia uma estrutura e uma consciência fora do comum – de repente comum pra quem está tecnicamente treinado, o que não é meu caso que estou me adaptando ainda pra não ser partida ao meio já já... porque ele pode, o Marroco pode fazer isso comigo em dois tempos – pra estar em prantos, urrando praticamente do útero, numa entrada de altíssimo impacto e efeito... e pra eu fazer isso tudo e manter a técnica toda necessária? Uhhhhhhhhhhhh... posso garantir uma coisa, que iniciamente foi frustrante... experimentei o que dava na hora e errado, me rasguei toda – de novo... feio, muito feio, eu sei...

Mas corri atrás dessa parte e tenho a grande ambição de colocar em prática ainda hoje direitinho como manda o figurino....  mais tarde, eu conto.... 





Atriz nascida em 29/10/1988. Integra o elenco de Cibele Albuquerque e é formada em Interpretação para TV, Cinema e Teatro pela JP Talentos.
Entre 1999 e 2000, esteve envolvida nos espetáculos teatrais realizados no Colégio Planck Einstein, na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2006, integrou a primeira formação de elenco do Grupo de Teatro do Colégio Cruz e Sousa em Florianópolis, participando da montagem de seu espetáculo de estréia “A Partilha”.
Já em 2011 teve seu primeiro contato com a linguagem audiovisual, ingressando no curso de formação profissional em Interpretação para TV, Cinema e Teatro do preparador e coach de atores Jeam Pierre Kuhl.
Em 2012, retornou aos palcos sob a direção de Ana Luz no espetáculo "A Gota que Falta", produzido pela JP Talentos. Formou-se e, simultaneamente, fez preparação intensiva para musicais com Maria Cristina Yoshizato, concluída com a apresentação indoor da esquete musical "Big Spender", numa versão que escreveu e dirigiu. Além de iniciar os estudos de canto e preparação vocal com Jamil Vigano.
Em 2013, já realizou a Oficina de Monólogos do Diretor Carlos Marroco e o módulo Avançado para Atores em TV/Cinema da JP Talentos ministrado por Gringo Starr e Jeam Pierre Kuhl; Filmou o curta-metragem "Sou eu e você" de Jeam Pierre Kuhl e estreou de forma inusitada no TAC, sob a direção de Carlos Marroco, em uma performance de intervenção nas escadarias do teatro, pouco antes da estréia de "Homens de Papel".  
Atualmente, realiza seus estudos em Teatro com o Diretor Carlos Marroco na Art Estúdio Espaço Cultural e em dança - Zouk - com James Batista na Academia Ilha da Dança.


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TV iNOVA - PROGRAMA MAKING OF


Acompanhe nos próximos três meses os bastidores da montagem de "Gota d'água" de Chico Buarque e Paulo Pontes com os alunos do Curso de Teatro 2 da Art Estudio Espaço Cultural


Direção de Carlos Marroco
Produção de Rafael Fernandes
Realização Art Estudio Espaço Cultural

MAKING OF
Uma produção de iNova
Direção de Vídeo e Apresentação de Franthesco Guarda
Produção, Edição e Caracterização de Marynes Bertote Guarda